Estado
paga a última parcela no Juro Zero
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Por Dauro
Veras | Para o Valor, de Florianópolis
Uma ação de
apoio a pequenos negócios formalizados, inédita no país, está sendo desenvolvida
em Santa Catarina como parte da política estadual de incentivo à
competitividade. O Programa Juro Zero empresta até R$ 3 mil para
microempreendedores individuais (MEIs), com financiamento em oito parcelas. Se
as sete primeiras forem pagas em dia, a oitava - correspondente aos juros - é
quitada pelo governo. A iniciativa é uma parceria da Secretaria do
Desenvolvimento Sustentável com o Badesc (Agência de Fomento do Estado), o
Sebrae/SC e a Amcred/SC (Associação das Organizações de Microcrédito e Microfinanças).
Nos primeiros
20 meses em que o programa está em funcionamento, foram emprestados R$ 42,5
milhões em 15,1 mil operações, que beneficiaram em torno de 10 mil
empreendedores. Cada empreendedor pode realizar até dois empréstimos.
"O Juro
Zero é o maior programa de inclusão social e econômica de Santa Catarina",
diz o secretário de Desenvolvimento Sustentável, Paulo Bornhausen. No estado
existem 100 mil MEIs, proprietários de pequenos negócios que têm no máximo um
empregado e faturamento bruto anual de R$ 60 mil. "Estamos atendendo 10%
desse público e a nossa expectativa é chegar pelo menos a 20%". Bornhausen
destaca o viés social do programa, que estimula a formalização de atividades
econômicas em um estado com forte tradição de empreendedorismo.
Mais de dois
terços dos tomadores dos recursos no Estado desejam abrir uma microempresa e o
índice médio de inadimplência não chega a 1%. Bornhausen acrescenta que o Juro
Zero faz parte de um programa mais amplo, o Nova Economia@SC, que prevê o
investimento de R$ 74,8 milhões em projetos de desenvolvimento e inovação
tecnológica até julho de 2014.
Capilaridade
é uma das características do programa, que conta com recursos captados pelo
Badesc no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). É
possível solicitar o empréstimo em praticamente todos os municípios
catarinenses, por meio de 19 instituições de microcrédito associadas à Amcred
do Estado, e utilizar o dinheiro tanto para o capital de giro como também para
aquisição de equipamentos.
Os
beneficiários são, em geral, vendedores autônomos e prestadores de serviços,
como cabeleireiros, manicures, eletricistas e pedreiros. "Estamos
trabalhando para atender também as microempresas numa próxima fase, que deve
começar ainda este ano com empréstimos de até R$ 15 mil e um fundo de R$ 30
milhões", informa o presidente do Badesc, João Paulo Kleinübing.
Ao tomar o
empréstimo, o microempreendedor recebe também orientação pós-crédito por
consultores do Sebrae. Este é considerado o grande diferencial do Juro Zero.
São três atendimentos individualizados. "Na primeira visita, feita de
forma simultânea à do agente de microcrédito, fazemos um diagnóstico para
avaliar o perfil do empreendedor e os aspectos básicos da gestão do seu negócio",
explica a gerente estadual de atendimento individual do Sebrae/SC, Soraya
Tonelli.
Depois, junto
com a liberação do recurso, o MEI recebe em outra visita o CD-ROM Negócio Certo
Sebrae, um programa de autoatendimento com noções básicas de legislação, empreendedorismo,
relacionamento com o mercado e gestão financeira. "Vivenciamos no dia a
dia o resgate da autoestima e da cidadania: a pessoa sente orgulho de ser
empresário", afirma ela.
A capacitação
do Sebrae/SC, que tem 75% do custo financiado pelo governo do Estado, é
composta de cinco etapas. O passo inicial é verificar a viabilidade financeira
e mercadológica do negócio. Em seguida, são estudados aspectos relativos à
formalização - custos para contratar um funcionário, uso da nota fiscal e dicas
para preenchimento da Declaração Anual de Microempreendedor Individual, entre
outros. No próximo passo, que trata da organização do negócio, são apresentados
conhecimentos sobre controles administrativos e como calcular corretamente o
preço de venda. Na sequência, o tomador do empréstimo recebe orientações para
acessar crédito. Por fim, aprende como aumentar as vendas e como atender as
expectativas dos clientes.
Dono de uma
borracharia na capital do Estado, Florianópolis, Jorge Luiz Adriano saiu da
informalidade em 2011 e captou R$ 3 mil no Programa Juro Zero. "Investi
para completar o pagamento de R$ 8 mil em uma máquina montadora de pneus para
carros importados, com um braço auxiliar pneumático que alivia 80% do esforço
físico", conta. "Consegui o empréstimo em dez minutos e nem precisei
ir lá - os agentes de crédito me procuraram aqui na borracharia, porque eu já
havia financiado outros equipamentos pelo Banco do Empreendedor, ligado ao
Sebrae".
Ele informa
que a aquisição da máquina representou um aumento de 10% do faturamento. E
comemora a formalização do negócio: "Passei a fornecer serviços para
autoescolas, vans escolares e locadoras de automóveis". Atento aos
indicadores macroeconômicos, Adriano não pretende fazer novos investimentos em
2013, mas no próximo ano quer ampliar o espaço físico do negócio e
transformá-lo em microempresa: "É um projeto com os pés no chão",
resume.
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