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Juro zero. Jura?
Os antigos costumavam dizer que “o papel aceita qualquer coisa”, quando queriam dizer que não se devia confiar demais no que diziam ou mesmo no que estava escrito.Quando o governo do estado anuncia, com toda a pompa, que vai oferecer empréstimo a “juro zero”, parece querer dizer que o dinheiro vai e volta sem qualquer remuneração pelo empréstimo.
Ora, isso é só uma meia verdade. O que, em se tratando de dinheiro público, vale como meia mentira. O Badesc vai cobrar juros sobre o empréstimo. Juros de 3,07%ao mês. O que não é pouca coisa (dá uns 36% ao ano).
O que ocorre, nesse programa nascido de uma experiência que Raimundo fez em Lages e que parece que deu eleitoralmente certo, é que o governo do estado paga os juros. Com dinheiro público. Portanto, com nosso dinheiro.
Vamos fazer um intervalo para abrir aqui enorme parênteses: fornecer dinheiro barato para microempresários individuais, pequenos empreendedores que em geral lutam com dificuldade, é coisa boa. Ainda mais no país dos juros mais altos do mundo. Iniciativa elogiável. Ajuda a oxigenar a economia, melhora o nível de vida de uma porção de gente.Para continuar com ditados antigos, vamos aproveitar mais um: gato escaldado tem medo de água fria. O governo vai usar os dividendos pagos pelo Badesc (uma espécie de retorno do dinheiro público investido naquela agência de fomento), para pagar os juros de quem se beneficiar com o programa. De tal forma que quem recebe o dinheiro tenha a impressão de que não paga juros.
Não é nisso, portanto, que reside a minha crítica. Fecha parênteses.
E a nossa experiência histórica demonstra que corremos o risco do uso eleitoral desse benefício. Há o perigo desse programa servir, para políticos governistas, como uma forma de gratificar cabos eleitorais, eleitores, amigos, eleitores em potencial e gente da “base eleitoral”.
Tipo assim: “Vai lá, fala com o fulano, diz que fui eu quem mandou, que ele te consegue um empréstimo a juro zero”.
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